terça-feira, 6 de março de 2012

Paixão Itinerante


Flor de Maracujá
Em meio ao cerrado havia uma planta que se destacava das demais, era o maracujazeiro. O motivo de seu destaque era a bela e única flor que a planta ostentava. Todos os colibris da região se inflamavam de desejo por aquela flor, muitos tentavam provar de seu néctar, mas próximo da frondosa árvore onde ficava a trepadeira, habitava um maléfico gavião. Ele sabia como a flor de maracujá incitava os colibris e antes que os pequenos pudessem se aproximar, ele os abatia.
No meio de tantos, existia um jovem cuitelo que todos os dias admirava o tesouro inalcançável, lamentava-se por não ter tamanho e força para enfrentar o malvado gavião. Com passar dos dias o pequeno colibri, desenvolveu uma forte obsessão (paixão) e traçou um plano minucioso para burlar a vigilância do inimigo. Ele percebeu que à noite a flor estava vulnerável, o gavião não podia vigiá-la todo momento, pois tinha de descansar.
Na noite seguinte, o audacioso colibri, voou furtivamente por entre os abrolhos até chegar aos pés do maracujazeiro. A pequena ave foi subindo lentamente, tão vagaroso, que era possível contar as batidas de suas asas. Até que por fim, chegou ao seu objetivo.
A lua estava cheia e iluminava estrategicamente a bela flor. O colibri pousou maviosamente sobre a pétala macia, suas pequenas patas arranhavam delicadamente a fina pele da flor que estava coberta de orvalho. Percebendo que poderia feri-la o colibri bateu asas e retrocedeu alguns centímetros e percebeu como era linda e imponente a grandiosa flor. Como se estivesse num ritual apaixonado, o colibri aproximou-se da flor, introduziu o seu bico e sentiu um intenso regozijo quando sua língua bifurcada tocou o inebriante néctar, era  como o beijo ardente de um amante.Com forte imprudência jovial,o colibri sugou uma grande quantidade de néctar que jorrava abundante da flor,era o sabor mais doce que provara na vida.Com grande pesar abandonou a amada pois o dia já estava nascendo.
Na noite seguinte, o colibri foi novamente ao encontro da flor, mas foi surpreendido pelo gavião que despertou de seu sono. O gavião perseguiu a pequena ave que rapidamente foi em direção dos abrolhos, devido ao pequeno tamanho e agilidade, o colibri conseguiu escapar. O gavião não teve tanta sorte, pois acabou ferindo uma das asas nos espinhos do abrolho e não pôde mais voar.Assim o colibri se tornou o herói do pedaço e pôde desfrutar plenamente da flor de maracujá.
Com passar dos dias, o colibri se perguntou se o néctar da flor era o mais doce de todos, pois todo dia estava se saciando dele. Então ficou sabendo que às margens do ribeirão havia uma roseira muito vistosa e ficou curioso. Decidiu que iria provar o néctar desta tal rosa e assim abandonou a flor de maracujá. O pequeno colibri passou alguns dias provando sabores diversificados, mas não se esquecia do sabor de sua amada flor, por fim, decidiu que iria voltar.
Ao regressar percebeu que outros desfrutavam de sua preciosa dádiva, beija-flores, borboletas e abelhas. Aquilo despertou uma imensa ira no colibri, pois achava que só ele era merecedor do néctar da flor, pois só ele tinha combatido o feroz gavião. Sem pensar atacou freneticamente a flor, despedaçando-a, as pétalas caíram lentamente no chão. Todos os animais que estavam em volta ficaram abismados, as bicadas feriram o caule e a flor caiu sobre um formigueiro.
As formigas em alvoroço mordiam a flor e a desfiguravam rapidamente a bela constituição, o flagelo era tão intenso que com os inúmeros ferimentos, o néctar escorreu sobre o formigueiro.
Ao anoitecer o colibri sentiu falta de sua flor, de tudo que ela proporcionava em sua vida e  se arrependeu de ter destruído sua felicidade.O maracujazeiro deu outras flores,umas até mais belas que aquela flor,mas nenhuma se comparou aquela que foi especial para o colibri.

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